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Com investidores mais cautelosos e realistas, é possível falar em retomada, embora o mercado ainda preveja um ano difícil em 2023?
Pesquisas recentes confirmaram o que já era perceptível no ambiente de inovação brasileiro: 2022 não foi o melhor ano para investimentos em novos negócios. De acordo com a Sling Hub, maior plataforma de dados de startups da América Latina, os aportes em empreendimentos nacionais caíram pela metade no ano passado, totalizando US$ 5,2 bilhões, em relação a 2021, que somou US$ 10,5 bilhões.
Se em 2021 houve um forte impulso no mercado digital devido à pandemia, o que levou a uma alocação elevada de recursos por parte dos investidores em startups, o cenário se estabilizou depois do frenesi inicial. Como controlar as expectativas de alto retorno? E mais, como navegar em uma realidade em que fatores econômicos como a guerra na Ucrânia, alta de juros e inflação afetam tanto os negócios?
Com a escassez de recursos, as startups precisaram rever suas projeções, causando as temidas ondas de demissões e uma queda severa nos valuations das empresas. Agora, com os investidores mais cautelosos e realistas, será que podemos falar em retomada, embora o mercado ainda preveja um ano difícil em 2023?
Foi o que perguntei para um grupo de investidores que atuam em diferentes segmentos no ecossistema de startups.
Para Rafael Moreira, CEO da Bertha Capital, um ajuste de realidade abre espaço para aportes mais criteriosos e assertivos em startups. Para ele, será como voltar a um patamar mais realista, já que 2021 foi um ano fora da curva.
“Acredito que seguiremos mais criteriosos na escolha dos negócios para os aportes neste ano. No entanto, discordo de algumas gestoras que falam que as rodadas Pré-Seed e o mercado Early Stage não serão impactados por essa nova realidade, pois agora os investidores estão buscando empreendimentos que tenham uma solução claramente validada com clientes, um MVP e até mesmo receita. Logo, o foco são as startups mais resilientes. São elas que estamos procurando no ecossistema ou dobrando as apostas já feitas”, sinalizou.
Já Gabriel Sidi, co-fundador da EXT Capital, enxerga a oportunidade de bons investimentos com perspectivas a longo prazo. “Tanto no Brasil quanto no mundo, os números de investimentos em startups caíram de maneira expressiva. Porém, especialmente nos Estados Unidos, os recursos comprometidos por investidores institucionais nos fundos de Venture Capital (“dry powder”) nunca estiveram tão altos. Além disso, o volume de captações pelos fundos bateu recorde em 2022. Isto porque, historicamente, é provado que quando o mercado vive um período de baixa, quem tem recursos para investir, vai investir muito bem. O resultado dessa safra de investimentos, que entra na baixa e espera sair na alta, tem tudo para ser muito bom, olhando os negócios dando retorno lá na frente. É assim que se deve pensar em investimentos de Venture Capital, ou seja, a longo prazo”, analisa.
O estudo da Sling Hub também mostra que, em 2022, o Brasil teve um aumento tímido nas Fusões e Aquisições entre empresas, indo de 229, no ano anterior, para 236. O movimento foi puxado principalmente por fintechs, healthtechs e deeptechs. A tendência de aceleração de M&As neste ano, segundo os especialistas, é grande, já que traz benefícios para as startups e, consequentemente, para os investidores.
“No momento, estamos olhando para dentro de casa, para o nosso portfólio, com o intuito de fazer aportes follow-on nos negócios que estão mostrando resultados, além de vender algumas operações que tenham uma boa solução tecnológica, mas que não conseguiram escala. Nesses casos, muitas vezes é recomendável fazer um M&A com outra startup maior. Assim, o empreendimento aglutina e fica com o percentual de um ativo maior que o atual”, sugere Rafael Moreira.
Um outro ponto bastante retratado pelos investidores é a transição pós-eleição, que traz um cenário de incerteza já previsto. “Obviamente, essa incerteza em um novo cenário político e socioeconômico já era esperada, mas o que os investidores de todos os tamanhos e de todas as classes de ativos necessitam para voltar a aportar capital nos negócios, especialmente o investidor de risco, é a mesma coisa: segurança econômica. Precisamos ter, no mínimo, uma previsibilidade para onde vai a economia do país, para que possamos pensar no médio a longo prazo”, argumenta Orlando Cintra, fundador e CEO do BR Angels, associação nacional de investimento-anjo.
Segundo ele, é importante que o ambiente econômico tenha solidez, com a inflação sob controle e uma taxa de juros futura menor, para que os empreendimentos possam se desenvolver de forma saudável. “Dessa forma, tanto startups quanto pequenos, médios e grandes negócios terão maior chance de sucesso, o que gera uma reação em cadeia no país. Com os negócios alcançando resultados, eles geram valor para economia e, gerando valor para economia, os investimentos voltam”, complementa.
E será que o agro continuará sendo pop? Para Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, uma Venture Capital focada em startups que levam tecnologia para o agronegócio, o setor que tem as melhores perspectivas para o ano é o de agtechs, que traz a força cada vez maior dos negócios do campo e também das pautas de sustentabilidade.
“As agtechs devem encerrar 2023 como os ativos mais resilientes dentro do ecossistema de tecnologia, com crescimento e acesso a capital. Vamos continuar em ritmo forte de investimentos, pois entendemos que a tese é defensiva e de longo prazo”, afirma.
De acordo com o mapeamento “Radar Agtech Brasil”, realizado pela Embrapa e que avalia o panorama das startups do setor agropecuário que trabalham com tecnologia, os dados são promissores. O estudo, divulgado em novembro, mostrou que o Brasil possui 1.703 agtechs, 8% a mais na comparação com 2021, quando foram contabilizadas 1.574 startups deste segmento em atividade no país.
Ao que tudo indica, sabendo plantar no lugar certo, a colheita virá, seja no campo ou na cidade.