A fintech, que iniciou suas atividades oferecendo inteligência para avaliação de risco, percebeu que seu verdadeiro diferencial não estava apenas na previsão de inadimplência, mas na capacidade de assumir riscos e financiar transações entre indústrias, distribuidores e pequenos varejistas. Agora, a startup dá um passo significativo para consolidar essa estratégia com o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 100 milhões, estruturado em parceria com o Itaú BBA e o grupo japonês Crédit Saison.
A meta da fintech é ambiciosa: viabilizar R$ 1 bilhão em crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) até o final de 2025. “Nosso modelo de crédito proprietário é dez vezes mais preciso do que os métodos tradicionais utilizados no mercado”, afirma Thiago Saldanha, CEO e cofundador da CashU. “Agora, além de estruturar a análise, conseguimos financiar diretamente o crescimento dessas empresas, sem depender exclusivamente de parceiros financeiros.”
A fintech se posiciona em um nicho ainda pouco explorado no Brasil. Enquanto o crédito digital B2C já representa 15% do mercado, no B2B essa penetração é de apenas 2,5%. “Estamos diante de uma oportunidade imensa em um segmento que ainda opera de forma analógica. O crédito para PMEs funciona quase da mesma maneira que há 20 anos: ou você tem garantias para oferecer, ou não consegue financiamento”, diz Saldanha.
A Experiência dos Sócios
O modelo da CashU não surgiu por acaso. A ideia começou a ser desenvolvida em 2019, quando Saldanha e Yuri Fonseca, cofundador e Chief AI Officer da empresa, estudavam em Columbia, nos Estados Unidos. “Temos o privilégio de, muitas vezes, conseguir antecipar tendências quando estamos em um ecossistema desenvolvido como o americano”, recorda Saldanha. “Ficou evidente que a próxima grande revolução no crédito B2B passaria pelo uso intensivo de inteligência artificial.”
Ao retornar ao Brasil, o desafio foi testar se essa tese funcionaria na prática. Os fundadores iniciaram projetos-piloto para entender os gargalos do crédito para PMEs, desenvolvendo soluções para um banco de fomento e para um dos maiores multisellers do país. Perceberam que não bastava apenas aprimorar a análise de risco; o verdadeiro diferencial seria oferecer crédito diretamente ao varejista, eliminando as barreiras do sistema financeiro tradicional.
A fintech começou suas operações com um modelo mais conservador, sem assumir riscos diretamente. No entanto, à medida que testava suas soluções, ficou claro que a escalabilidade real só seria possível se a empresa também financiasse os clientes. Em 2021, captou R$ 6,1 milhões em sua rodada seed. Desde então, cresceu exponencialmente, conquistando clientes como os três maiores marketplaces B2B do país, além de distribuidores e indústrias nos setores de alimentos, bebidas e higiene.
O crescimento médio na originação de crédito tem sido de 32% ao mês. “Conseguimos demonstrar nossa capacidade de originar crédito dentro da cadeia de fornecimento. Agora, com o FIDC, temos um motor de crescimento próprio”, afirma Saldanha.
Crédito para Quem Precisa, Quando Precisa
O diferencial da CashU está em transformar dados que os bancos tradicionais ignoram em variáveis preditivas para crédito. Conectada a indústrias e distribuidores, a fintech analisa mais de 1.500 variáveis comportamentais para determinar a capacidade de pagamento de cada varejista e quanto crédito ele precisa para crescer sem assumir riscos excessivos.
“Conheço bem o problema do crédito do lado de quem já tomou crédito. Para um pequeno varejista, a única opção acessível é a antecipação de recebíveis do cartão. Mas se ele não tem uma maquininha ou um ativo para oferecer como garantia, simplesmente não consegue financiamento”, explica Saldanha. “Nosso trabalho é calibrar a concessão para que ele possa crescer de forma sustentável, sem se endividar excessivamente.”
A tecnologia da fintech permite que a concessão de crédito seja feita em tempo real, diretamente no checkout das compras realizadas por PMEs em marketplaces e distribuidores parceiros. O varejista não precisa ir até um banco, negociar taxas ou preencher burocracias: o crédito é concedido no momento da compra, integrado ao fluxo de pagamentos da indústria.
O Futuro do Crédito B2B no Brasil
Com o novo FIDC, a CashU busca expandir rapidamente suas operações. A meta é alcançar R$ 100 milhões em concessões mensais até o fim do ano, mantendo parcerias com outras instituições financeiras, mas também utilizando capital próprio para impulsionar esse crescimento.
A fintech também considera novas captações no futuro, à medida que seu modelo ganha tração. Diferentemente de outras startups que cresceram a qualquer custo e depois enfrentaram dificuldades, a CashU apostou desde o início em um modelo sustentável. “A entrada de players como Itaú e Crédit Saison elevou o nível de governança da empresa. Durante o processo de captação, realizamos testes com os maiores bancos do mercado e comprovamos a superioridade dos nossos modelos”, conclui. Essa aprovação foi um reconhecimento essencial para a CashU.