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As startups tiveram o pior janeiro desde 2018, de acordo com o levantamento Inside Venture Capital, do hub de inovação Distrito.
No primeiro mês do ano, foram captados US$ 96,6 milhões, uma queda de 84% em relação ao mesmo período do ano passado.
O resultado só não foi pior por conta da captação da energytech Órigo, que respondeu por metade do volume de janeiro, com US$ 45,5 milhões.
Conversamos com alguns investidores do país para entender o atual momento e como os investimentos em startups devem se comportar no decorrer do ano. Confira abaixo:
Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito, destaca que será um ano desafiador para o setor:
“Ainda existem dúvidas sobre quando e como os juros globais começaram a ceder. Com isso, os recursos tendem a continuar escassos e as startups deverão buscar sustentabilidade operacional e fontes alternativas de capital. Janeiro foi marcado por maior intensidade no movimento de demissões, tanto de big techs quanto de startups, o que demonstra o humor do mercado”.
No mesmo sentido Cacio Packer, CEO da Pacetech e fundador da SCAngels, comenta que o momento é de cautela por conta de vários fatores macroeconômicos, como a retomada do crescimento na taxa de juros e a incerteza sobre as políticas públicas que o novo governo vai adotar e que afetam toda a economia:
“Porém, diferente dos ativos financeiros, que são mais sensíveis às turbulências do mercado, as Startups são ativos de longo prazo, logo superam os pequenos ciclos de crise, como este que estamos vivendo agora. Dito isso, é difícil concluir que o ano será de maior retração no campo do venture capital, pois existe muito capital ainda pra ser alocado e os ciclos de investimentos são em média de 4 a 5 anos, o que faz com que a comparação entre ciclos mensais seja de alguma forma pouco conclusiva”.
Que o dinheiro anda escasso para aportes em startups não é nenhuma novidade. Depois do boom que aconteceu a partir de 2020, o momento é mais difícil para quem precisa levantar investimento, de acordo com Tiago Vailati, ex-CEO da Hiper (vendida para Linx/Stone) e sócio da Questum, que faz assessoria de M&A para startups:
“E os ventos não mudaram de direção. Nem devem mudar tão cedo. Pelo menos enquanto observarmos os juros nos patamares que estão. O dinheiro para investimento existe, apenas mudou de destino. Enquanto em janeiro de 2021 as startups levantaram US$ 720 milhões, em janeiro de 2023 o número ficou um pouco acima de US$ 96 milhões. O reflexo em fusões e aquisições também foi parecido, 26 transações no ano passado versus apenas 8 este ano. É exatamente por isso que muitas startups têm demitido, visando alongar o dinheiro em caixa”.
Para ele, a tendência é que os fundos olhem para negócios que provam potencial de crescimento sustentável a longo prazo. E nessa mesma linha, João Kepler, CEO na Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, complementa que os investimentos não pararam, apenas ficaram mais seletos:
“É um cenário parecido com o que a Bossanova sempre operou no venture capital: investimentos apenas em negócios que já estivessem ajustados, em breakeven (ou próximo dele), com um plano de crescimento sustentável”.
Marina Leite, head de RI da Invisto, venture capital que atua no Sul do Brasil, ressalta que assim como os movimentos de injeção de capital durante a pandemia inflaram o valuation e trouxeram muito dinheiro para startups, o mesmo movimento foi visto nos fundos de venture capital:
“Isso reforça que, há dinheiro disponível e pronto a ser investido, todavia a decisão de investimento será sim mais lenta e racional. O momento é também de acerto nos níveis de valuation, logo, existe aí uma oportunidade para os investidores. Dito isto, a tendência é que os investidores sejam mais cautelosos, já que estão em uma condição mais favorável considerando recursos disponíveis, ou seja, sempre haverá dinheiro para investir em bons empreendedores”.
Orlando Cintra, CEO da BR Angels, associação nacional de investimento-anjo composta por mais de 260 CEOs, concorda que é muito cedo para tirar uma conclusão sobre os números deste ano, mas espera que os investimentos em startups continuem acontecendo, até pelos valuations agora estarem mais racionais e justos.
“Eu, particularmente, não acho que 2023 será pior que 2022. Creio que existem excelentes oportunidades de investimento e que o ecossistema continua forte, além de agora estar com precificação mais justa. O grande ponto de virada serão os IPOs voltando a acontecer – o que ainda não há sinais no momento. Com IPOs retornando, claramente haverá uma rápida retomada dos investimentos em ativos de mais alto risco”.
Para finalizar, Rafael Moreira, CEO da Bertha Capital, acredita que os fundos continuarão investindo nos próximos meses, mas o prazo de avaliação dos negócios será maior:
“Isso porque se quer conhecer melhor os empreendedores, entender a fundo os detalhes do negócio, validar ainda mais a estrutura de receita de clientes, assim como validar se os fundadores são resilientes em um momento de queda do potencial de receita estimado”.