Voltar

16 de fevereiro de 2022 - Na Mídia

Esta PME aposta no ‘efeito Netflix’ para exportar games do Brasil

Você prefere ler esta notícia direto no site do veículo? Clique aqui!

Paulistana DX Gameworks capta R$ 10 milhões e quer facilitar o contato entre pequenos estúdios e grandes plataformas de games

André Freitas, da DX Gameworks, e Rafael Moreira, da Bertha Capital: aposta na vocação do Brasil para exportação de games (Montagem de Júlio Gomes/EXAME/Divulgação)

Um dos principais impactos de serviços de streaming como a Netflix é, talvez, a popularização de produtos audiovisuais feitos bem longe de Hollywood. Basta lembrar do sucesso de séries como a sul-coreana Round 6 — sintonizada por 111 milhões de lares em pouco mais de um mês, um recorde — ou da espanhola Casa de Papel, terceira série mais vista na história da plataforma. 

Em comum, ambas têm o fato de terem sido produzidas por estúdios até então desconhecidos e, com uma bela de uma força da Netflix, viraram fenômenos globais de audiência.

Os empreendedores André Freitas e Rafael Moreira creem num mesmo ‘efeito Netflix’ a caminho do mercado de games. O apetite das big techs sobre esse mercado está a mil — vide anúncios recentes como a aquisição da desenvolvedora de games Activision Blizzard pela Microsoft, em janeiro, por 68 bilhões de dólares

Por trás do alvoroço está a corrida para ver quem consegue conquistar a atenção de mais jogadores. E, para isso, ter um portfólio fornido de jogos está na ordem do dia das grandes dispostas a replicar o efeito Netflix no mercado de games. “A distribuição de games nunca foi tão fácil”, diz Freitas. “E poucas vezes estúdios pequenos tiveram tanta oportunidade de conquistar clientes pelo mundo como agora.”

Freitas e Moreira estão conectados, em lados diferentes, à história da DX Gameworks, uma startup paulistana dedicada a ser uma espécie de concierge de pequenos estúdios de games dispostos a trilhar o caminho das pedras para ver suas criações emplacarem em consoles populares como Xbox, da Microsoft. 

Freitas fundou o negócio em dezembro de 2020 com o intuito de ser a primeira publicadora independente de jogos da América Latina. No rol de serviços oferecidos pela DX a criadores de jogos está assessoria financeira, contábil, de marketing e de serviços jurídicos. “A gente quer que o criador de games esteja concentrado na ideia dele”, diz Freitas. “Todo o resto do business a gente cuida.”

O modelo de negócios da DX pressupõe comissões sobre os serviços prestados aos pequenos estúdios e sobre a venda dos games para as plataformas. 

Atualmente, a DX Gameworks tem 19 projetos em desenvolvimento em parceria com dez estúdios independentes do país. São nomes em boa medida desconhecidos fora das rodas de gamers, como Garage 227, Bad Minions, IMGNation, Sera 3D e Flying Saci. “As vezes são negócios com quatro jovens recém-formados na faculdade e precisam de assessoria em questões básicas da expansão de um negócio”, diz Freitas.

O capital inicial para a DX dar esse suporte aos empreendedores do mercado de games vem de Moreira, sócio da Bertha Capital, um fundo com sedes em São Paulo e Manaus dedicado a criar negócios para suprir lacunas específicas de mercado em cadeias produtivas em que o Brasil tem alguma vantagem competitiva, como biodiversidade, healthtechs e fintechs. 

É, nas palavras de Moreira, uma derivação do company building, modalidade de investimento em que grandes empresas abrem startups dedicadas a resolver desafios complicados de serem resolvidos dentro de casa — e bombam de recursos as empresas recém-nascidas na esperança de elas virarem novas fontes de receita ao negócio-mãe. 

A criação da DX é um exemplo do company building proposto pela Bertha, que está aportando 10 milhões de reais na DX neste mês numa rodada seed. “A ambição da DX é ser o grande publisher de jogos independentes na América Latina”, diz Moreira. “Mas a nossa ambição não para por aí.” A meta da Bertha é aportar 500 milhões de reais em pelo menos outros 18 negócios a serem criados do zero pelos sócios-investidores do fundo nos próximos anos.

Os recursos captados agora pela DX deverão triplicar o time de 100 funcionários, hoje em dia espalhados em escritórios em Manaus (AM), São Paulo (SP), Brasília (DF) e Miami (EUA). A captação deve colaborar para o lançamento de cinco jogos ainda no primeiro trimestre de 2022. A meta anual da empresa é lançar pelo menos dez novos games por ano. 

O momento para fazer isso, na visão de Freitas e Moreira, é dos melhores. O real desvalorizado barateou os custos de produção de games no Brasil na comparação internacional — e há mais gamers e produções nacionais do que nunca por aqui a ponto de faltarem profissionais para o setor

Em paralelo, o buzz em cima de fenômenos globais como o metaverso despertou o olhar de gente até então pouco afeita ao mercado de games sobre o potencial do setor. “O metaverso é, em boa medida, um grande jogo”, diz Freitas.

Apesar de passar boa parte do tempo livre junto a algum console em casa, Freitas é um neófito no mercado de games — a DX é o primeiro negócio nesse mercado numa carreira com pouco mais de duas décadas de experiências em fundos de venture capital como o Sonoma e empresas de mídia digital como ComScore e Cazamba. “Venho para trazer uma visão de mercado a um setor com boas ideias de sobra”, diz ele. Com a Netflix como norte, a meta de Freitas, agora, é transformar tudo isso em bons negócios.