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A foodtech Simple&Co, de marcas digitais de alimentação, conclui rodada de investimentos coletiva; Bertha lidera com quase metade dos recursos
A startup Simples&Co, de gestão de marcas de alimentação, fez sua estreia no universo das captações de recursos com uma rodada coletiva que somou R$ 3,5 milhões. A foodtech, que aproveita o bom momento do delivery e das empresas nativas digitais e fundadas já com a perspectiva de atender a um público familiarizado às entregas, arrecadou recursos por meio da Captable, principal plataforma de investimentos coletivos em startups do país.
Para a captação atual chama a atenção por um detalhe novo para o universo do crowdfunding: a participação majoritária de um único investidor institucional e de venture capital na rodada. Trata-se da Bertha Capital, fundo de investimentos em startups que injetou R$ 1,5 milhão do total aportado. Ao todo, foram 356 investidores.
Aqui, vale a explicação: até a aprovação das mudanças nas regras primárias para investimentos em startups, promovidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em maio deste ano, a modalidade só era acessível a pequenos investidores e pessoas físicas.
Com as mudanças regulatórias, agora rodadas podem contar com participações mais “volumosas”, e rodadas podem chegar a um valuation de até R$ 15 milhões, o triplo do teto estabelecido anteriormente.
O que faz a Simples&Co
Fundada pelos empreendedores André Piva, ex-sócio de Jorge Paulo Lemman no fundo de private equity Innova Capital, e Alan Pedroso, ex-consultor de administração na Falconi, a startup opera marcas nativas digitais vendidas exclusivamente via delivery com restaurantes, aqui considerados “parceiros de negócios” pela empresa.
Na prática, isso significa que a Simple&Co desenvolve suas próprias marcas de alimentação e se associa a restaurantes que materializam a produção dos itens e os vendem via delivery. As matérias-primas, plataforma digital e todo arcabouço tecnológico e de marketing ficam a cargo da foodtech, enquanto os restaurantes se responsabilizam pela mão de obra e estrutura física para as vendas.
“O objetivo da Simple&Co não é ser um concorrente, e sim um agregador a negócios já existentes, ajudando eles a aumentar o faturamento e receberem renda extra de uma expertise que temos e ajudando eles a usar uma estrutura que já possuem, ou seja, sem novos custos”, diz o CEO da empresa, André Piva.
Para a startup, a vantagem está em ter uma rede densa de dark kitchens. Para o restaurantes, o retorno é de R$ 2 mil reais por mês, uma taxa fixa pelos serviços, além de 5% em cima do total vendido nas marcas da Simple&Co — o que, segundo Piva, fica em torno de R$ 40 mil a R$ 50 mil mensalmente.
Atualmente, a empresa conta com três marcas, que operam em parceria com dez restaurantes na cidade de São Paulo:
- PF Simples, de pratos feitos;
- Burguer Simples;
- Salada Simples
Juntas, as marcas recebem algo como 10.000 pedidos por mês.
Como a empresa pretende crescer
Com o investimento captado, o plano da foodtech é levar a operação para novas cidades no estado de São Paulo, além de ampliar o leque de culinárias do portfólio. Na lista estão pratos asiáticos ou pizzarias, por exemplo.
Para isso, 40% do valor captado será utilizado para a abertura de novos parceiros. Outros 30% serão destinados para contratações de profissionais para agregar ao time da startup. O restante, será dividido em partes iguais, em que metade será destinada à finalização da plataforma de tecnologia e a outra metade será usada em ações para marketing e tração.
O próximo passo, segundo Piva, é expandir a operação para restaurantes mais estruturados e de porte maior, como redes de franquia de alimentação. “A ideia é mirar em restaurantes que são fruto de esforços de empreendedores e suas economias de uma vida toda, como as franquias, mas que não estão conseguindo pivotar o negócio”, diz.
Além disso, a startup pretende ir além das marcas virtuais de delivery e oferecer outros serviços e produtos essenciais à existência desses negócios, como crédito e gestão operacional.
Por que o investimento importa
Do lado dos investidores, a crença é de que há uma cadeia potencial no setor de alimentação do Brasil. Segundo Rafael Moreira, CEO da Bertha Capital, olhar para empresas de menor porte em busca de capital para pivotar operações iniciantes (especialmente em crowdfunding, após novas normas da CVM) é uma oportunidade de impulsionar o ecossistema como um todo. “Essa conexão de investimentos de pessoas físicas, com cheques menores, a fundos como nós, é algo muito positivo para o ecossistema de inovação do país, sem competição, mas um trabalho em conjunto para que essas empresas prosperem”, diz.
Antes da Simple&Co, o fundo já havia investido em outras empresas de food service. Entre elas a Tiffin Foods e a NetFoods, mas foi a primeira vez que o fundo participa de um investimento pela modalidade de financiamento coletivo.
O movimento é visto como algo positivo, analisa o fundador da CapTable, Paulo Deitos. A entrada de fundos a partir da mudança regulatória pode desencadear um efeito cascata que estimule a entrada de investidores e fundos experientes que levam agora smart money para dentro dos conselhos das pequenas e, ao mesmo tempo, pode repassar informações valiosas sobre o andamento dos negócios aos outros investidores. “É um salto de governança e com certeza é um ciclo virtuoso”, diz.