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28 de fevereiro de 2023 - Na Mídia

Investidores pedem mais critério na escolha de startups para aportes

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Pesquisas recentes confirmaram o que já era perceptível no ambiente de inovação brasileiro: 2022 não foi o melhor ano para investimentos em novos negócios. De acordo com a Sling Hub, maior plataforma de dados de startups da América Latina, os aportes em empreendimentos nacionais caíram pela metade no ano passado, totalizando US$ 5,2 bilhões, em relação a 2021, que teve o volume total de US$ 10,5 bilhões.

Segundo investidores que atuam no mercado brasileiro, como Francisco Jardim (SP Ventures), Gabriel Sidi (EXT Capital), Rafael Moreira (Bertha Capital) e Orlando Cintra (BR Angels), essa queda ficou ainda mais evidenciada devido à comparação com o ano recorde de 2021. Para Rafael Moreira, CEO da Bertha Capital, gestora de recursos que oferece diferentes produtos do mercado de capitais para servir às estratégias de inovação das empresas, um ajuste de realidade abre espaço para aportes mais criteriosos e assertivos em startups.

“Apesar dessa queda nos investimentos em 2022, se compararmos ao ano fora da curva que foi 2021, voltamos ao patamar mais realista de 2020. Por isso, acredito que seguiremos mais criteriosos na escolha dos negócios para os aportes em 2023.

No entanto, eu discordo de algumas gestoras que falam que as rodadas Pré-Seed e o mercado Early Stage não serão impactados por essa nova realidade, pois agora os investidores estão buscando empreendimentos que tenham uma solução claramente validada com clientes, um MVP e até mesmo receita. Logo, o foco são as startups mais resilientes. São elas que estamos procurando no ecossistema ou dobrando as apostas já feitas”, diz Moreira.

Já Gabriel Sidi, co-fundador da EXT Capital, spin-off da DOMO Invest focada em ajudar as startups de maior destaque do portfólio para que possam ir mais longe, enxerga a oportunidade de bons investimentos com perspectivas a longo prazo.

“Tanto no Brasil quanto no mundo, os números de investimentos em startups caíram de maneira expressiva. No entanto, especialmente nos Estados Unidos, os recursos comprometidos por investidores institucionais nos fundos de Venture Capital nunca estiveram tão altos, o que chamamos de dry powder.
Além disso, o volume de captações pelos fundos bateu recorde em 2022. Isto porque, historicamente, se prova que quando o mercado vive um período de baixa, quem tem recursos para investir, vai investir muito bem.

Ou seja, o resultado dessa safra de investimentos, que entra na baixa e sai na alta, tem tudo para ser muito bom, olhando os negócios dando retorno lá na frente. É assim que se deve pensar em investimentos de Venture Capital, pensando a longo prazo”, analisa Sidi.

O estudo da Sling Hub também mostra que, em 2022, o Brasil teve um aumento tímido nas Fusões e Aquisições entre empresas, indo de 229, no ano anterior, para 236. O movimento foi puxado principalmente por fintechs, healthtechs e deep techs. O CEO da Bertha Capital, Rafael Moreira, afirma que o M&A segue como uma tendência forte para o ano e evidencia que esse tipo de operação pode trazer diversos benefícios para as startups e, consequentemente, para os investidores.

“No momento, estamos olhando para dentro de casa, para o nosso portfólio, com o intuito de fazer aportes follow on nos negócios que estão mostrando resultados, além de vender algumas operações que tenham uma boa solução tecnológica, mas que não conseguiram escala.

Nesses casos, muitas vezes é recomendável fazer um M&A com outra startup maior, assim, o empreendimento aglutina e fica com o percentual de um ativo maior que o atual.

Tem uma série de possibilidades para continuar incentivando esses negócios, a depender de como eles vão performar em um momento de queda da receita geral, maior inflação e, obviamente, um processo de recuo de recursos disponíveis no mercado de Venture Capital para próximas rodadas”, comenta Rafael Moreira.

Outro ponto retratado pelos investidores é a transição pós-eleição, que traz um cenário de incerteza já esperado, como conta Orlando Cintra, fundador e CEO do BR Angels, associação nacional de investimento-anjo com mais de 250 C-Levels de importantes empresas associados.

“Obviamente, essa incerteza em um novo cenário político e socioeconômico já era esperada, mas o que os investidores de todos os tamanhos e de todas as classes de ativos, mas principalmente o investidor de risco, precisam para voltar a aportar capital nos negócios é a mesma coisa: segurança econômica.
Precisamos ter, no mínimo, uma previsibilidade para onde vai a economia do país, para que possamos pensar de médio a longo prazo”, afirma Cintra.

“Além disso, esse ambiente econômico precisa ter solidez, com a inflação sob controle e uma taxa de juros futura menor, para que os empreendimentos possam se desenvolver de forma saudável. Dessa forma, tanto startups quanto pequenos, médios e grandes negócios terão maior chance de sucesso, o que gera uma reação em cadeia no país. Com os negócios gerando resultados, eles geram valor para economia e, gerando valor para economia, os investimentos para eles voltam”, complementa o líder do BR Angels.

Para Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, uma das gestoras de Venture Capital mais tradicionais do país com mais de 10 anos no mercado, o setor que tem as melhores perspectivas para o ano é o de agtechs, que traz a força cada vez maior dos negócios do campo e das pautas de sustentabilidade.

“As agtechs devem encerrar 2023 como os ativos mais resilientes dentro do ecossistema de tecnologia, com crescimento e acesso a capital. Vamos continuar em ritmo forte de investimentos, pois entendemos que a tese é defensiva e de longo prazo”, afirma Jardim.